29 março 2009

Jardim da Saudade

O dia de hoje começa com um telefonema ontem a noite pouco antes da meia noite que me dá a notícia que me avô morrera de infarto de um dia para o outro.

Já no Rio, reencontro toda a família que há muito não encontrava: tia, primos, tio, amigos próximos e minha avó. E tão pouco todos estão reunidos, as questões de família começam a aflorar. Todo esse contexto parecia para mim um filme que começava a se desenrolar, desses que mostra as questões de família que surgem nestes grandes eventos familiares como os casamentos e funerais.

A presença do meu avô era marcante, ele se fora de maneira rápida e singela como era de sua personalidade. No velório fiz questão de deixar tocando as músicas de jazz favoritas dele. No momento de seu sepultamento caia uma chuvinha fina, como que para levar de leve as lágrimas dos rostos, beijando com carinho e delicadeza aquela nossa dor da ausência que vamos sentir.

Foi a primeira vez que eu senti por alguem uma outra forma de relação, uma relação de matéria com não matéria. Quando pensei no meu avô, me dei conta de que a próxima vez que eu encontrá-lo ele não será mais meu avô. Será uma nova vida, a sua alma encarnada em outra coisa, ou talvez nem mesmo ainda encarnado, simplesmente espírito.

Como é exatamente que o universo decide que é hora de alguem partir?! Será que a morte fica ali de espreita, planejando o momento exato? Ou será o nosso espírito que escolhe e então simplesmente se vá do mundo terrestre material?

Afinal tudo é tão impermanente nessa vida. Melhor é viver o presente. Entregar-se para quem amamos, nos abrirmos para receber seu amor, ser o que queremos ser e finalmente não ter medo de um dia partir.

Agradeço-te Vô, por ser meu eterno mentor espiritual e me ensinar mais isso.

Última valsa


Ele era um homem bonito. Alto, esbelto, magro e com cabelos cacheados que penteava bem escondidinho.

Falava forte, alto sempre a cumprimentar os conhecidos na rua, nas lojas onde fazia suas compras habituais, no banco onde ia - e que para não sofrer com o choque térmico ficava na porta habituando-se com o ar condicionado antes de entrar de vez. Ele sempre ajudou a todos que precisassem oferencendo todos os anos uma porçao de conjuntos para bebes no dia de São Cosme e Damião e cestas para os funcionários próximos no Natal.

Era um homem de coração imenso e linda generosidade. Nunca fora pessoa de muitas posses, mas o suficiente para viver a vida que queria ter, oferecendo aos filhos e netos o que lhe cabia sempre. Demonstração de seu amor eram belas jóias de ouro oferecidas em datas especiais.

Em sua casa jamais faltara nada. Lembro-me da geladeira sempre cheia e com as coisas que eu gostava de comer que ele comprava especialmente para cada um de nós que ia visitá-los. Atencioso com esse e aquele detalhe. Preocupado em garantir que tivessemos nossas passagens de ônibus com antecedência e também que não chegassemos atrasados na rodoviária sempre ligava para algum amigo seu e deixava tudo arranjado antes mesmo que nos dessemos conta.

Lembro-me das vezes que fomos passear juntos pelo Méier em que ele me apresentava com orgulho para as pessoas conhecidas das lojas e lugares onde íamos. De maneira sempre discreta perguntava como estava minha vida e como vinha me saindo na escola, faculdade e trabalho. Sempre interessado e orgulhoso das minhas viagens pelo mundo.

Lembro-me de quando dançamos juntos no casamento do primo mais velho. Parecia um jovem cadete me conduzindo pelo salão em meio a todas as pessoas, que pouco a pouco paravam para nos olhar tamanha era a sua felicidade e orgulho. Sempre soubera que ele gostava de jazz e que quando jovem frequentava animado os bailes do exército. Aquela fora uma noite muito especial para nós dois. Ali se encontravam 3 gerações da nossa família, ali eu me conectava com ele, lhe dava amor e respeito, me deixando ser conduzida pelo salão musica após música. Fora a primeira vez que o vira tão feliz. Seus olhos brilhavam como os de um criança e seu sorriso cobria-lhe toda a cara.

Me dissera mais tarde que aquela teria sido uma das noites mais felizes da sua vida e que ele tinha ficado tão feliz que pensava ser a sua última noite...

Hoje, na sua última noite, espero que tenha ido com a mesma alegria que sentiste enquanto dançavamos juntos.

Da sua neta que te ama sempre.

Valentine

28 março 2009

A luz de velas

Luzes apagadas,
Notas do violão ressoando musicas brasileiras conhecidas e gostosas
Ele e eu muito animados
Um tomando wiskie e o outro pinga
Cantamos empolgadamente cada uma das musicas que começa

Risotto de abobrinha no fogão
A casa na penumbra das velas espalhadas

Há mais de uma hora nesse clima
Hora do Planeta
Uma campanha, um movimento, uma mobilização internacional nos proporcionando tudo isso.

27 março 2009

Você já sorriu hoje?

O que me faz sorrir em São Paulo???

- ir ao cinema e pagar 5 reais
- andar no fim da tarde na Vila Madalena e redondezas para desfrutar da luz dourada que fica
- encontrar uma pessoa em quem estava pensando na rua
- ganhar presente inesperadamente daquela loja que eu amo
- almoçar com os amigos novos da Yoga depois da aula
- fazer yoga tão pertinho de casa e tão boa
- passar pelas bancas de flores na Dr. Arnaldo
- assistir meu amigo Marco improvisando
- comer num restaurante e sentir que isso me fez carinho por dentro
- andar na Av.Paulista no fim do dia e a noite
- passar pelo centro da cidade a noite e comtemplar as construções iluminadas e bonitas
- ir na Comedoria do Sesc Paulista, aproveitar a vista e comer bolhinho de café com chocolate
- conhecer um novo lugarzinho desses escondidos que só paulistano paulistano conhece
- ver a torre colorida da Paulista mudando de cor

E vc, o que te faz sorrir???

24 março 2009

Pro laborium

Há algum tempo tenho pensado nas escolhas que fazemos dos nossoa trabalhos. Sempre encontro ou ouço de de alguem que não está lá muito contente com o seu trabalho, e o pior dos casos que está fazendo aquilo que não é exatamente a coisa que realmente lhe dá prazer e faz brilhar os olhos. O mais grave, ao meu ver, é que essas são pessoas jovens.

Mas afinal, o que e impede as pessoas de serem aquilo que ela realmente querem ser? Qual o medo? Será de enfrentar as dores que todo amor tem, afinal amar requer dedicação, frustrações, e continuo aprendizado? A pressão por nós mesmos colocada sobre a necessidade de se ter dinheiro para viver a vida de São Paulo também é outro importante fator que jusifica não se fazer aquilo que ama, afinal, parece haver um mito de que isso não pode te dar dinheiro... Enfim, as variáveis são muitos e as justificativas também.

Lendo agora um texto de Wolfgang Sachs, encontrei uma passagem sobre o trabalho que muito me intrigou. Diz ele que com a era da industrialização o homem passou a ser "homo laborans cuja natureza como ser humano só poderá ser realizada através do trabalho. O que é adequado para a sua natureza, e, portanto, considerado como virutde, é definido segundo exigências da produção mecânica. A nova lista de virtudes é ditada pelas leis que dão eficiência às máquinas: pontualidade, precisão, disciplina, precisão, diligência, etc, etc"

Isso então me fez pensar sobre a nossa relação com as nossas aptidões e nossos talentos, e o quanto somos capazes de observar para além desse modelo mental, quais são realmente as nossa qualidades, que vão muito além daquela necessárias para o trabalho que realizamos.

Um dia conversando sobre isso com um amigo ele disse, uma dica para você saber quais são os seus talentos, começe a prestar atenção para o que as pessoas pedem a sua ajuda!

O caminho está aberto...

23 março 2009

Chai, chai, chai




Eu nunca consegui muito falar sobre a India e o tempo que passei por lá. Lembro-me que quando voltei ao Brasil, depois de um ano, o choque cultural aqui foi maior do que o choque que sofrera ao chegar lá. As pessoas nas ruas se beijando, as revistas de mulher pelada nas bancas, o som do portugues que entrava no meu ouvido e se fazia compreensivel, tudo era para mim uma surpresa, como se fosse uma indiana chegando ao Brasil pela primeira vez... Como tudo era tão diferente, sentia que as pessoas nunca entenderiam o que era a India e o que ela tinah sido para mim, por isso preferia falar pouco, e durante anos aquilo de mais valor que trouxera de lá ficara guardado numa gaveta num armarinho ao lado da cama, sem ser revelado e compartilhado com o mundo.

Passados exatos 3 anos desde que voltei, me bateu nesses dias uma saudades enorme de lá e a vontade de voltar ainda este ano. Nas semanas recentes a India tem voltado para mim em diferentes momentos: com amigos que já moraram lá conversávamos bastante sobre as curiosidades do lugar, o filme "quem quer ser um milionário?", um livro novo que estou lendo cuja história se passa entre Israel e India, enfim, coisas e mais coisas.

Então resolvi relembrar como fora a India para mim, relendo poemas e textos que escrevi quando lá estava ou durante minha chegada. Encontrei esse daqui:

Por um instante me vem aos sentidos as vendinhas de chai e cafe das ruelas e vilas de um India distante.

Eu, sentada num baquinho meio bambo, apoiando os ombros numa mesa ainda grudenta, o atendente se aproxima com aquele sorriso maroto e um pano de prato no ombro para tirar o meu pedido. Decido por m chai masala para acompahar uma torta de maça - do tipo européia.

Enquanto espero passando os olhos por algum livro ou folheto que me foi entregue, observo o vai e vem incessante na rua. Mulheres que passam com seus saris coloridos, marcando se passo com o chocalho de suas tornozeleiras, crianças com o cabelo lambido de óleo e sujeira, com as unhas negras de terras e de suor, os olhos marcador de kohl, que estedem a mão e levam a boca repetindo "rupee, chapati, chapati". Vespas tocando freneticamente suas buzinas, desviando aqui e acolá das pessoas, bicicletas, richshaws e vacas traçam rápido seu caminho por entre a multidão.

Tudo lá fora e e está num ritmo alucinante, funcionando num caos gritante que também divide lugar com uma certa ordem pulsante. Caos e ordem dançam junto nessa terra de tantos mistérios e encantos.

Disse me avô antes de eu partir para meu ano de viagem "uma viagem para India pode mudar a sua vida!". E mudou... de jeitos que ainda hoje não sei direito explicar ou até assimilar, ficou gravado bem dentro de mim.

22 março 2009

Poema-flor


Noutro dia, já faz um tempo, ganhei esse poema-flor, de um amigo muito querido que agora está longe. Na verdade com o advento da modernidade e conexão instantânea, esse amigo ficou muio amigo foi mesmo por causa da internet, e agora que ele tá longe voltamos a nos falar ainda mais do que quando morava aqui em são paulo...

De qualquer forma, estive pensando e conversando com ele dia desses e me lembrei do poema-flor, mandado via GTalk numa de nossas muitas conversas virtuais. Fui reencontra-lo no histórico de mensagens e como adoro gérberas porque para mim são flor de palhaço, transcrevo ele aqui:



Gérbera vermelha
entre finos nacos de relva.
Pontículos leves d´água
no veludo das pétalas aninhado.
Caule translúcido
por vivos raios penetrado.
Vento excitante, insitado suor,
pelo infinito rubro provocado.
Denso ofegante,
intensa flor amante,
vermelha moça transeunte.

18 março 2009

Sharper wits

Para inspirar:
"The universe is full of magical things patiently waiting for our wits to grow sharper"
Eden Philpotts

Sucesso requer tanto sorte, muita prática e habilidade

Hoje estava lendo um livro sobre os Outliers, aqueles caras que fizeram alguma coisa fora da curva e foram muito bem sucedidos. No livro o autor fala sobre a importancia de se praticar muito para alcançar a excelência, maestria e sucesso em alguma coisa. Estima ele que cerca de 10 mil horas ao longo de 10 anos. Grandes mestres como Mozart, Os Beatles, Steve Jobs e Bill Gates, todos eles levaram esse tempo de muita prática e exercício até alcançarem o nivel reconhecido de sua expertise. Diz o autor ainda', que somente a inteligência não garante a esses gênios o sucesso que têm. É toda uma combinação de fatores como família, momento histórico, ancestralidade e sincronicidades que de fato atuam em favor do sucesso dos outliers.

É tempo a beça o que estamos falando aqui, mas é uma reflexão que muito me agrada, afinal acrdito sim que o sucesso e a maestria vem com muita prática combinada com as sincronicidades e oportunidades que a vida nos oferece. Coisas que quando estamos vivendo muitas vezes nem nos damos conta da amplitude e o impacto que vão ter nas nossas vidas no futuro, mas que já estão de algum modo agindo para ser o que devemos ser... Uma pessoa que se encontra, um filme que se vê, um livro que se lê ou um uma conversa que se tem, tudo isso são coisas que podem e estão mudando as nossas vidas a cada momento.

Isso me fez lembrar de quando morava na India. Já estava lá há mais de tres meses, trabalhando em uma organização social no Rajastão. Meu contrato com eles era por um ano e eu já naquele momento sentia que tinha outras coisas que gostaria de fazer e que lá não seria o local mais adequando. Numa viagem ao norte, em Dharamshala, onde mora o Dalai Lama e a comunidade fugida do Tibet, quando estava voltando do jantar com um amigo enquanto subia as escadas para o terraço do meu hotel, pensei comigo, assim por breves 5 segundos, "vou ter agora um encontro importante com uma pessoa". E assim foi, em frente a porta do meu quarto havia dois franceses conversando numa mesinha. Me sentei com eles e começamos a conversar. Logo descobri que eles também moravam no país há algum tempo a trabalho. Um deles trabalhando numa empresa de tecidos e o outro em um ONG internacional dedicada ao Microcrédito. Havia não mais do qe uma semana que tinha lido todo o material da ONG para a qual trabalhava o rapaz, por conta do seu trabalho inovador com as instituições de microcredito da India. E conversa vai, conversa vem, eu perguntei ao moço se na sua ONG eles não estariam com vagas abertas. Me disse ele, surpreso e feliz "acabei de divulgar ontem uma vaga para a área de comunicação, por que você não manda o seu CV"?! E assim foi que menos de um mês depois eu estava me mudando de cidade e assumindo um novo posto de trabalho justamente na área que me motivara a ir para India em primeiro lugar.

Que as coisas não acontecem por acaso nessa vida, isso tenho aprendido a cada dia. E cada vez mais tenho buscado é estar desperta para perceber quando as oportunidades me estão batendo na porta, pois sempre, de algum jeito uma coisa dentro da gente manda o sinal de que está na hora de mudar um pouco a direção do leme para deixar as velas na posição do sopro dos ventos.

Para quem se interessar:
Fora de Série - Outliers
Malcolm Gladwell
Ed. Sextante

08 março 2009

Conexão Borboleta

É no silêncio que muito acontece! Coisas tomam outras formas, formas tomam profundidade e se consolidam ou simplesmente perdem sua forma inicial para dar espaço para algo novo, único, especial. E assim são as borboletas. Estes seres mágicos que carregam em suas asas uma unicidade distintiva ao mesmo tempo em que tão bela e inspiradora para o mundo ao seu redor.

Em um processo lento e silencioso elas se transmutam de lagarta em casulo, e então em borboletas que logo lançam vôo levando consigo toda uma história de aprendizado e auto-desenvolvimento, a qual compartilham de forma leve, alegre e feliz em todos os lugares onde passam.

Quando ainda lagartas, são seres que se alimentam voraz e incessantemente, se nutrindo e se preparando por muitos dias para logo se recolherem em seu casulo, em um período de total introspecção e transformação química e fisiológica – em um período de silêncio e aconchego do ser que era, do ser que é e daquele em que se vai tornar.

Da crisálida surge a borboleta, um ser que agora tem sua forma final, sua missão e seu papel na natureza definidos. Um ser que sai ao mundo, indo de flor em flor, se nutrindo e levando consigo o melhor de cada uma – o néctar, o alimento dos deuses. Pequenas ou grandes, algumas mais coloridas outras menos, as borboletas levam ao vários jardins do mundo a vida, o recomeço e também o contínuo de um processo. Polinizando aqui e acolá, possibilitam o surgimento do novo, o desenvolvimento das espécies e também a perpetuação do que existe e é bom e belo.

Assim também são os jovens: se nutrem a partir das mais diferentes fontes, estudando, envolvendo-se com projetos, conhecendo pessoas, desenvolvendo idéias, as mais distintas e variadas o possível, para que com o tempo, à medida que amadurecem, façam suas escolhas com maior consciência e certeza, não somente com base nas experiências que tiveram, mas principalmente, de acordo com seus valores e seu ímpeto motivador.

Por isso, Conexão Borboleta é um encontro de líderes jovens que já identificam um desejo de servir ao mundo e que são convidados a procurar sua motivação e suas forças e talentos em si mesmos para fazer escolher conscientes dos próximos passos a serem dados rumo ao futuro.

Um novo estilo de liderança está surgindo: um líder que compreende os modelos atuais de liderança e sabe trabalhar com os recursos externos e com a mobilização de pessoas, mas também está conectado consigo mesmo e com o chamado do que o mundo está lhe pedindo, trabalhando para si e para o outro. O líder que serve apenas a si mesmo ou apenas ao outro está dando lugar a uma pessoa servidora de seus valores, que identifica seu chamado e trabalha em harmonia com ele.

"Neste momento, ao observarmos a condição do mundo, muitos de nós temos o desejo de servir ao mundo. Mas se nossa própria mente fica afetada pela condição do mundo, não podemos de fato servir ao mundo. Uma mente que está preenchida de raiva ou tristeza não é capaz de servir." Dadi Janki – BKSU


QUANDO: Abril 2009 (Brasil)
Junho (Grécia)

VEJA O CONVITE: http://invitation.conexaoborboleta.org/

Qual a história?

Qual a história que precisa se contada neste momento?
Me perguntava ontem uma amiga cineasta, quando conversávamos sobre novo roteiro que ela quer filmar.

E qual é afinal, em meio a toda a informação a que temos acesso, e às mil solicitações a que estamos expostos todos os dias, a história que ainda não ouvimos e que precisamos ouvir neste momento?

Uma história de mudança, uma história de fé, de crença e de possibilidades. Uma história de gente com a gente que fez alguma coisa diferente e mudou, gente que decidiu um dia mudar o rumo da vida, ou tomar o rumo que era seu, e acreditar que podisa ser diferente.

De qualquer forma, alguma história que não somente inspire com também mobilize as pessoas. Afinal em tempos de tante mudança, me parece que nosso trabalho é proporcionar vetores para verdadeira transformação e mudança de atitude, vida, alma e relações.

Para você, qual a história que precisa ser contada neste momento?

05 março 2009

Avôs de presente

Eu tenho 6 avós, todos vivos e saudáveis. Quatro deles pais do meu pai e da minha mãe, os outros dois que eu ganhei da vida, que são pais do marido da minha mãe. No final das contas tenho mais contato com esse dois avós ganhados do que com os outros, afinl moramos na mesma cidade e tudo o mais.

Eles são duas pessoas incríveis, vieram fugidos da II Guerra da Hungria em plena adolescência acompanhados de seus pais e irmãos. Chegaram no Brasil sem saber uma só palavra desta língua tropical e nem tampouco conhecendo os costumes destas terras. Atracados no porto do Rio de Janeiro, logo tiveram que se acostumar com a nova vida encalorada e bagunçada que estas terras ofereciam. Aqui no Brasil se reencontraram, casaram-se e logo partiram para o Canadá para que meu avô seguisse seus estudos. Lä ficaram por 3 anos, tiveram seu primeiro filho e tão logo terminado o curso do meu avô voltaram ao Brasil para se consolidar como uma familia.

Eles sempre dizem que essa foi a melhor escolha que fizeram, afinal comparando com os outros paises no mundo o Brasil é a melhor opção.

Sempre que posso vou jantar com eles para contar as novidades e fazer um update das nossas vidas. São sempre conversar muito boas, regadas com um gostoso vinho e um delicioso salmão. Conversas que vão de política nacional e internacional, passando pelo nível pluviométrico na fazenda localizada no Vale do Paraíba, espiritualidade e questões de consciência, até o andamento do último Fórum Social Mundial.

Com eles eu sempre aprendo muito. Aprendo um pouco mais sobre conviência e sobre respeito. E também sobre generosidade e capacidade de mudança. Eles são pessoas que depois de passados anos da vida, continuaram aberto para mudar a experimentar coisas assim, como diz meu avô, "que ficam numa zona que não se entende". Minha avó uma exímia praticante de yoga há décadas, estudante de tarot, estudante e praticante de I Ching. Foi dela que eu ganhei o meu Bhaghavad Gita, o livro sobre Tarot e Jung meu baralho de Tarot. Meu avô, um exímio conhecedor de árvores, que levanta e vai caminhar pela fazenda todos os dias quando o orvalho ainda tá nas folhas para conversas com a árvores e tratá-las. Tomador de florais brasileiros do Joel Aleixo por anos e também conselheiro de importantes organizações que estão pensando um novo jeito de estar no mundo.

Hoje, me dizia minha avó: "o importante é viver no presente! Afinal o passado já foi e o futuro ainda vai ser e eles nada têm para nos dizer." E meu avô dizia, "o bom é não ficarmos parado em lugar nenhum, estar sempre em movimento..."

E como toda vez que os encontro, saí de lá com vontade de dizer-lhes o quanto aprendo com eles e como eles são importante para minha vida, minha formação de pessoa e de alma. Quero dizer-lhes o quanto sou grata por te-los ganhado de presente na vida e que os amo muito por serem tudo isso e mais um pouco na minha história. Mas sempre me faltam as palavras, os abraços e beijos de despedida tomam lugar e lá se vai mais uma oportunidade de expressar esse amor...

02 março 2009

Acerolas na Janela

Chegando do rio no sábado de madugada acendo a luz do quinta e lá está ela, a árvore de acerola do nosso quintal completamente vermelha, pingada assim de gotas rubras redondas e apetitosas. Juro que me emocionei de ver elas ali sorrindo para mim, naquela madrugada de calor encarolado e estrelas brilhantes no céu.

Isso me fez pensar nas almas que cada pessoa de cada lugar tem... Pois sim, os paulistas tem alma de paulista, os cariocas tem alma de carioca, os parisienses temm paris na alma, os novaiorquinos tambem tem a 5th avenue em si, e por aí vai. Cada um é sempre marcado pela pulsação que existe no lugar onde mora e isso fica marcado não somente no jeito de ser, mas no jeito de estar, no estado de espírito e relação que tem com a vida. Por exemplo, nós paulistas temos na alma uma pressa, uma exigência por exelência nos serviços e atendimentos e sobretudo uma constante busca por coisas a fazer... Ao passo que me parece que os cariocas tem impresso na alma uma jeito mais leve e despojado de levar a vida. Me lembro que quando era pequena ia a praia com meu pai, carioca, e ficava sempre impressionada como as pessas ias praticamente de biquini no busão do subúrbio até a praia - cerc de 1h30 de viagem. E iam de sunga, sem camisa ou biquini com saida de praia transparente numa boa! Fazendo um samba na caixa de isopor com a cerveja gelada... É como se para eles as coisas importantíssimas pudessem esperar até se terminar a gelada ou o mengão fazer o próximo gol. Me parece que nós paulistas falamos sempre com a cabeça, e a cabeça no lugar, enquanto os cariocas falam com o corpo e com o pé, afinal: "quem não gosta de samba bom sujeito não é, é ruim da cabeça e doente do pé!"