Neste carnaval pensei muitas coisas sobre muitas tantas coisas...
Há muito venho pensando nas gerações e na relação das gerações. Tudo começou quando quis ter um mentor(a) para me acompanhar no meu processo de desenvolvimento pessoal e profissional. Eu dizia para mim mesma, não é para ser alguem que acha que tem coisas a me ensinar, mas alguem que eu escolha para me acompanhar, andar junto, lado a lado numa caminhada nova porém já vivida. E foi assim que um ano e pouco depois encontrei Sarah Whiteley e Maria Scordialos encrustadas como pérolas nas pedras do Mar Egeu. Como se uma onde me tivesse levado até elas, assim meio á deriva como quem acha que não sabe para onde ir mas já saiu com o destino traçado. Come~cou com um sonho, espaço em branco, no topo duas palavras grandes separadas por hifen escritas em letras diferentes e faladas em lingua pouco familiar. Axladitsa-Avatakia... Era para lá que derivava minha alma antes mesmo de eu começar a atravessar o oceano. Em busca de aprendizagem, de cumplicidade e simplicidade. Porque as coisas sempre são porque são. Mulheres que vivem com o que são. Com um amor de plenitude e inteireza e com suas certezas. Duas guerreiras, duas fadas, duas bruxas. Me acompanham, me questionam, me instigam, completam meu pensar e dizem o meu falar que ainda não tinha forma só sentido. Aprendo um pouco mais de mim a cada dia, pois me vêem com olhos de quem enxerga além, dentro, bem dentro - nonde mora o que quer sair.
Abrir-me para aprender, no sentido do aprendiz é coisa rara, coisa dificil. Tanto rara no tempo esse em que vivemos, em que se cobra por sermos sabidos, sabichões desde que se é gente um pouco maior. Tempo que se valoriza a eterna novidade e a invenção. Tempo em que bonito é ser gente grande logo de uma vez. Nossos ritos de passagem parecem mais uma merchandise que se compra e vende na esquina - formatura, festa de quinze anos, carteira de motorista, 21 anos e por aí vai. E vamos aos poucos nos perdendo de nossos avós, pais e ancentrais. Deixando pra trás, à rebarba, a sabedoria da linhagem, da tradição. Nos perdemos dos nossos mestres e professores deixando-os no esquecimento das memórias de um tempo de festas, de descobertas e curtição. Eles já foram o que somos hoje. E são um pouco, quase tudo, do que seremos daqui a pouco. Então porque deixá-los tão escondidos e ignorados se a sua luz ilumina os nossos novos traçados caminhos?
Vendo hoje meus avós que assistiam tv com o volume nas alturas um ao lado do outro segurando as mãos como novos namorados de 65 anos de convivência, pensei comigo: "o quanto tenho para aprender..." Eles passaram juntos a segunda guerra, criaram os filhos na juventude da ditatura, participaram das primeiras eleições da redemocratização, viram Collor subir e descer, viveram a crise do petróleo e do dólar, se assustaram com o 11 de setembro, ficaram indignados com o lula lá, aprenderam a não ser chamados de sr ou sra, e também que hoje em dia se mora junto e não se casa virgem e que é ´possível falar com alguem por uma tela preta... E tudo isso juntos, ela e ele, ele e ela, aprendendo e reaprendendo a ser um pouco mais de um ou pouco mais do outro, um pouco dos filhos, um pouco dos netos e um pouco dos bisnetos.
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