** Para inspirar **
"Não entender" era tão vasto que ultrapassava qualquer entender - entender era sempre limitado. Mas não-entender não tinha fronteiras e levava ao infinito, ao Deus. Não era um não-entender como um simples espírito. O bom era ter uma inteligência e não entender. Era uma benção estranha como a de ter loucura sem ser doida. Era desisteresse manso em relação às coisas ditas do intelecto, uma doçura de estupidez.
Mas de vez enquando vinha a inquietação insuportável queria entender bastante para pelo menos ter mais consciência daquilo que ela nÃo entendia. Embora no fundo não quisesse compreender. Sabia que aquilo era impossível e todas as vezes que pensara que se compreendera era por ter compreendido errado. Compreender era sempre um erro - preferia a largueza tão ampla e livre e sem erros que era não-entender.
Clarice Lispector
Nenhum comentário:
Postar um comentário