A cada dia me surpreendo mais com o poder da despretensão! Um estado simples, singelo e um tanto dificil para se permanecer. Uma forma de sentir, agir e de se colocar no mundo bastante distinta daquela a que estamos acostumados - ou melhor doutrinados. Na despretensão tudo é possível! Aquilo que se espera ser não existe. O que existe é o que é ou está em processo de vir a ser. Aquilo que se quer que seja fica perdido em meio ao que está sendo no presente, no ato do agora.
Neste estado de alma e de corpo, reina uma constante prontidão para responder aos estímulos que nos são dados a todo momento. Impera um estado de alerta que vê possibilidades em tudo, a partir de uma perspectiva simples e verdadeira.
Tenho experimentado o poder deste estado de despretensão em diferentes momentos nos últimos dias. A começar por uma viagem de final de ano de todo despretenciosa e contudo maravilhosa, que aconteceu com um convite espontâneo e com intenção de coração. E vem se reforçando também em encontros de trabalho a medida em que tomo mais consciência de que o importante é se preparar com pouco e chegar com muito espaço vazio para deixar ser preenchido na troca com os outros.
Noutro dia por exemplo tive uma reunião com um grupo já conhecido na qual se queria pensar o propósito de um encontro com toda a equipe da organização. Eu estava introduzindo ao grupo uma amiga/parceira que convidei para realizar o trabalho comigo. Tinhamos nos encontrado algumas horas antes para um almoço longo que serviu para nos atualizarmos das novidades uma da outra e também para eu fazer um briefing sobre o cliente, o trabalho e assim pensarmos no desenho da reunião. Feito isso, de maneira muito leve e resumida aos pontos essenciais, desenhamos um fluxo de encontro em que deixariamos o bastão da fala rodar pelas pessoas presentes para que expussesem a importância que elas viam no encontro a ser planejado, ao mesmo tempo em que faziamos uma colheita num flip chart ao centro da mesa. E assim foi o desenrolar da nossa reunião, feita uma breve contextualização, o bastão começou a circular ao redor da mesa e as pessoas foram trazendo suas opiniões sobre o encontro em questão, enquanto minha parceira ia tomando nota dos pontos principais... Até que ao final da primeira rodada tinhamos padrões identificados na fala de cada um que logo construiram uma estrutura geral para o encontro que estavamos planejando. Isso tudo, assim, sem grandes discussões, debates ou enorme tempo de reunião, simplesmente com a despretensão e forte intenção de que fosse ali criado um espaço para juntos chegarmos a uma clareza sobre o encontro em pauta. Despretencioso também foi o convite para minha amga/parceira entrar comigo neste trabalho. Já haviamos trabalhado (indiretamente) juntas em outros projetos e desde que começamos a nos conhecer melhor sentia com ela aquela ressonância necessária para chamar alguem de parceiro/a. Era algo assim meio intuitivo, baseado na amizade que temos desenvolvido que me fazia ter quase certeza de que trabalhar juntas seria quase um casamento. E foi! Sem fazer força nenhuma estávamos as duas lá, uma completando a outra no agir e no pensar, e naquilo que está se provando ser tão importante, na despretensão e a presença.
Para praticar esse tipo de despretensão a que me refiro estou descobrindo também é gigante necessidade do desapego. Isso mesmo, d-e-s-a-p-e-g-o! Desapego das minhas próprias idéias pré-concebidas, da cobrança por ter sempre as respostas certas e prontas antes do tempo, da falsa noção de que muito e mais é melhor. Enfim, desapego daquilo que se quer que seja ou de quem se acha que é, para simplesmente deixar tudo ser como é! E isso tem sido um exercício e tanto, que com a prática se torna menos doloroso e muito mais prazeiroso e divertido. Requer treino, uma boa dose de entrega e outro tanto de confiança. Eu diria que aqui se é importante ter confiança no caos e na aparente desordem e insucesso, bem como no tempo que é natural a cada uma das coisas, processos e pessoas. Afinal dá tudo sempre certo no final!
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