29 janeiro 2009

Um encontro extravagante: o palhaço e o anfitrião


Onde se cruzam as referências do palhaço e do anfitrião?

Partindo de um estado de improviso e de prontidão ao que é oferecido pelo mundo externo, o palhaço se serve das suas sensações e percepção expandida para deixar a mente e o corpo responder de forma inusitada ao que lhe está sendo proposto. O fluxo da criação a partir do que se sente e do prazer da criança bricante, abre as portas para uma outra qualidade de inteligencia e relação com o que é. Neste estado TUDO o que surge ganha uma dimensão na eternidade pois surge da imersão no presente mais profundo. A criação não tem um fim objetivo além de ser ela em si mesma e tudo que pode representar neste momento. O que surge no estado da improvisação nasce predestinado a ser logo substuído por outra manifestação do fluxo da criação e do prazer, algo ainda mais genial, mais apropriado ao momento presente. O palhaço, como o anfitrião, pede um constante exercício de se manter no fluxo e no desapego do que se queria que fosse, para ser o que quer que emergir na hora.

No trânsito pela potência da improvisação, o palhaço é extravagante e inesperado pois coloca-se na eterna busca por registros para além do cotidiano, aberto para reconhecer outros símbolos naquilo o que conhecemos. Uma condição de continua permabilidade por aquilo que se está vivendo, como material bruto e puro para a criação, o improviso e a magia.

Se os sentimentos e sensações pessoais são o material para o trabalho, então existe uma mobilização emocional que proporciona trazer à tona a sutileza e o invisível. Servindo-se de um estado dilatado de percepção, o palhaço capta o que está no ar e se dispõe a trazer para o centro da roda com sua mais nobre irreverência, prontidão e leveza.

Neste estado do improviso, o palhaço serve-se do que é: sua bagagem e sua provisão para oferecer ao mundo seu olhar para as coisas. Olhar torto e sensível que faz das coisas uma leitura do que pode ser feito e/ou do que existe NESSE momento. A arte do improviso não significa desplanejamento, significa ao contrário muito preparo, prática e pesquisa, da sua maior ferramenta: si próprio.

E fazendo uso de si, com consciência de seus limites, seus ridículos, sua beleza, sua potência criativa, o palhaço é essa figura que está à frente, no palco, à serviço da sua vocação no mundo. Tanto quanto o anfitriao de conversas significativas.

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