29 março 2009

Última valsa


Ele era um homem bonito. Alto, esbelto, magro e com cabelos cacheados que penteava bem escondidinho.

Falava forte, alto sempre a cumprimentar os conhecidos na rua, nas lojas onde fazia suas compras habituais, no banco onde ia - e que para não sofrer com o choque térmico ficava na porta habituando-se com o ar condicionado antes de entrar de vez. Ele sempre ajudou a todos que precisassem oferencendo todos os anos uma porçao de conjuntos para bebes no dia de São Cosme e Damião e cestas para os funcionários próximos no Natal.

Era um homem de coração imenso e linda generosidade. Nunca fora pessoa de muitas posses, mas o suficiente para viver a vida que queria ter, oferecendo aos filhos e netos o que lhe cabia sempre. Demonstração de seu amor eram belas jóias de ouro oferecidas em datas especiais.

Em sua casa jamais faltara nada. Lembro-me da geladeira sempre cheia e com as coisas que eu gostava de comer que ele comprava especialmente para cada um de nós que ia visitá-los. Atencioso com esse e aquele detalhe. Preocupado em garantir que tivessemos nossas passagens de ônibus com antecedência e também que não chegassemos atrasados na rodoviária sempre ligava para algum amigo seu e deixava tudo arranjado antes mesmo que nos dessemos conta.

Lembro-me das vezes que fomos passear juntos pelo Méier em que ele me apresentava com orgulho para as pessoas conhecidas das lojas e lugares onde íamos. De maneira sempre discreta perguntava como estava minha vida e como vinha me saindo na escola, faculdade e trabalho. Sempre interessado e orgulhoso das minhas viagens pelo mundo.

Lembro-me de quando dançamos juntos no casamento do primo mais velho. Parecia um jovem cadete me conduzindo pelo salão em meio a todas as pessoas, que pouco a pouco paravam para nos olhar tamanha era a sua felicidade e orgulho. Sempre soubera que ele gostava de jazz e que quando jovem frequentava animado os bailes do exército. Aquela fora uma noite muito especial para nós dois. Ali se encontravam 3 gerações da nossa família, ali eu me conectava com ele, lhe dava amor e respeito, me deixando ser conduzida pelo salão musica após música. Fora a primeira vez que o vira tão feliz. Seus olhos brilhavam como os de um criança e seu sorriso cobria-lhe toda a cara.

Me dissera mais tarde que aquela teria sido uma das noites mais felizes da sua vida e que ele tinha ficado tão feliz que pensava ser a sua última noite...

Hoje, na sua última noite, espero que tenha ido com a mesma alegria que sentiste enquanto dançavamos juntos.

Da sua neta que te ama sempre.

Valentine

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